4.13.2009

TIÃO VIANA E AS ORGANIZAÇÕES TABAJARA


A descoberta da astronômica conta de telefone celular da filha do senador Tião Viana (PT-AC) simboliza bem a vergonhosa “parceria-público-privada” da política brasileira. A história, já bem divulgada pela imprensa, é a seguinte: o senador emprestou o telefone celular para a filha, que numa viagem ao México gastou exatos R$ 14.758,07 com ligações, despesa esta que seria paga, como diz o Ancelmo Góis, pelo meu, o seu, o nosso dinheiro. Escândalo revelado pela imprensa, o nobre parlamentar afirmou que iria pagar a despesa do próprio bolso, como sempre acontece após a "casa arrombada".

Diante de tantos episódios absurdos de uso do dinheiro público para fins particulares que vêm sendo divulgados no Congresso, como as diversas comissões cuja única função é a de empregar apadrinhados (tem uma até para cuidar do coral do Senado), a impressão que se tem é que, com raríssimas exceções, aquele que consegue se eleger para a Câmara dos Deputados ou o Senado Federal pode estufar o peito e gritar bem alto o bordão das Organizações Tabajara, do grupo Casseta & Planeta, bastando apenas inverter o pronome: “Os meus problemas acabaram!”

Diante desta autêntica farra do dinheiro público, o sujeito que consegue se eleger para Brasília pode muito bem se assemelhar a um ganhador da loteria. Senão, vejamos: ele vai passar quatro ou seis anos ganhando um excelente salário e se aposentar em bem menos tempo que a maioria dos mortais, receberá diversas benesses, como viagens, casas confortáveis, carrões para ele e a família, direito de nomear um monte de gente e muitas outras vantagens, como o auxílio-paletó e a língua do contribuinte para colar o selo das cartas.

Acredito que o Brasil não teve uma revolução até hoje para mudar este estado de coisas porque a maioria da população vê o cargo eletivo em Brasília realmente como um prêmio da loteria. Ao invés de dizer: “Ladrões, corruptos! Precisamos tirá-los de lá!” e tomar a Bastilha do cerrado, é mais fácil sonhar acordado: “Quem sabe um dia eu não chego lá e não faço o mesmo? Vou recuperar tudo o que eles me roubaram!”

O mais triste é saber que estas denúncias são apenas a ponta do iceberg, que os ralos do dinheiro público são muitos e se espalham também pelo Executivo, Judiciário e toda a máquida do governo, só que de vez em quando a coisa vaza na imprensa, devido, principalmente ao pitoresco de casos como o destas ligações de celular ou dos cartões corporativos, usados até para comprar pamonha.

Dá para acreditar no que escreveu, de forma muito perspicaz, o correspondente do “The New York Times”, Larry Rother: “A corrupção no Brasil é endêmica”. Principalmente quando descobrimos que o gasto de telefone celular da filha de um senador poderia matar a fome de muitas famílias pobres. Mas a Copa do Mundo e as Olimpíadas vêm aí e tudo logo será esquecido.